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Mostrando postagens de 2018

Sobre a Abominável Arte de Procrastinar

Conviver no meio acadêmico não tem sido tão promissor quanto esperava. Afora minha tendência de me reservar de toda forma de convívio e relacionamentos, a rigidez para a produção acadêmica tem me derrotado.  Falo em derrota porque ainda não consegui - e talvez jamais consiga - me adaptar à uma rotina de estudos hermética e inflexível. Tentei criar uma tabela de estudos com tópicos e horários para me dedicar durante o dia. Criei uma agenda para regular as horas dedicadas à leitura, sono e atividade física. Nada deu certo. Me acostumei a fazer as coisas quando tenho vontade e me sinto estimulado - por mais que muitas vezes esse estímulo tenha que ser criado com vídeo-aulas de certos intelectuais em que me brota uma vontade insaciável de superá-los.  Entretanto, tal comportamento tem sido acompanhado de horas dedicadas a nada mais que procrastinação. Algo que considero abominável e que certamente devo urgentemente extinguir da minha vida. E, pelo que vejo nos grupos de bolsistas que

Sobre os Bolsistas que "Mamam na Teta"

Hoje levei minha motocicleta na oficina e fui questionado se estava desempregado - talvez o rapaz percebeu que estou ali em diferentes momentos no dia e só restava uma dúvida: estava desempregado ou em alguma espécie de ocupação que me permitia um horário bastante flexível para resolver assuntos particulares.  Me encaixo na segunda opção. Respondi que recebia uma bolsa da Universidade e automaticamente ele sugeriu que eu "mamava na teta", repetindo ideia muito comum no discurso daquele imbecil que teremos de aturar como presidente nos próximos anos. Conseguir uma bolsa de estudos fez parte dos meus objetivos durante alguns anos, foi quando em 2016 fui aprovado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFAM e desde março de 2017 recebo um valor em dinheiro do Governo Federal para que eu possa me manter e me dedicar integralmente aos estudos.  Desde lá, não é a primeira vez que ouço tal tipo de comentário, como se ser bolsista fosse algum tipo de privilégio, coisa de g

Síndrome de Down e Fraternidade

Fizemos uma viagem em família no mês de Outubro e estivemos na vila de Alter do Chão, no estado do Pará. Logo no primeiro dia uma cena das mais marcantes da minha vida ocorreu. Já tinha visto, enquanto perambulava pelas ruas com minha namorada, um hippie portador de síndrome de down. Estava lá com seus pares confeccionando e expondo seus artesanatos.  De noite saímos para a praia em grupo e, nesse meio, estava meu primo Ramon - que também é especial (em todos os sentidos). No caminho, os dois se encontraram. Não tinha como prever o que aconteceria. Ramon e o Hippie trocaram algumas palavras e se abraçaram. Honestamente, achei aquilo lindo. Um abraço sincero, de duas pessoas que sentem na pele diariamente o odor do preconceito, mas aquela característica que normalmente os deixa alijados da sociedade foi o que motivou aquela efêmera demonstração de afeto e fraternidade.  Um detalhe que me chamou atenção foi o fato de que Ramon é adventista e vive uma vida de pequenos luxos e comodida

Incêndios e Homofobia

Dias atrás, uma mulher foi agredida na saída de uma festa ao ser confundida com um travesti, aqui em Manaus. Sim, o que motivou a agressão foi algo de natureza torpe e revoltante. O fato é que homofobia sempre existiu, no entanto, agora ela tem cheiro, tem nome e tem cor: JAIR BOLSONARO. Uma amiga psicóloga comentou comigo o pesadelo que uma paciente homossexual está vivendo nesse período de eleições, sofrendo com crise de pânico e ansiedade. O temor que a iminente eleição de um candidato declaradamente homofóbico tem afetado muitas pessoas. O medo de ser agredido por pessoas que não respeitam a diversidade sempre existiu, mas estamos a poucos passos de legitimar o preconceito. Pessoas que simpatizam com o candidato, em sua maioria, tem em si uma ojeriza insana por quem não segue a orientação sexual padrão e estavam apenas esperando o momento certo pra se revelar. Lembro de uma vez que pai e filho foram agredidos por andar abraçados em uma festa de rodeio no interior de São Paulo.

O Que Leva Cristãos a Votar em Bolsonaro

Estava tentando estudar, mas ao ficar sabendo da inclinação de uma pessoa tão próxima - que inclusive frequenta minha casa - em apoiar Bolsonaro, me deixou um pouco magoado. É incrível como tal candidato consegue atrair públicos tão diversos e até improváveis, dentre eles, muitos de meus conhecidos e ex-irmãos de crença (adventistas). Houve um tempo que se pregava amor ao próximo, o perdão, a caridade, o amparo aos mais necessitados. Agora, um político fala em entupir as cadeias, em fazer um governo para as maiorias, em fuzilar os adversários políticos, em acabar com as políticas dos Direitos Humanos, Universais e por isso é vangloriado. É impressão minha ou o mundo está louco? Mas, em uma análise superficial, me surgiu uma hipótese sobre esse apoio incondicional a um demagogo que nada tem de Cristão. A teologia cristã tem um Messias, um Salvador, alguém que descerá dos Céus para separar o joio do trigo e levar os justos para morar com ele nas Mansões Celestiais. Já entenderam ond

Amazonino Mendes e Os Vingadores

Hoje estava pensando na proposta de Amazonino ao concorrer ao Governo do Amazonas, mais uma vez, mesmo depois de anunciar sua aposentadoria, se apresentando como a mudança, o novo, como o nome ideal para realizar necessárias modificações nas estruturas básicas da administração pública amazonense.  Em meio a esses pensamentos, lembrei do enredo de Vingadores 2 - A Era de Ultron. Pra quem não assistiu, acontece o seguinte: Tony Stark (Homem de Ferro) e Bruce Banner (Hulk) criam uma inteligência artificial que funcionaria como um escudo para a Terra, que protegeria a Humanidade de ameaças interplanetárias e alienígenas, sendo assim de grande ajuda para os heróis. Entretanto, a tecnologia se mostra tão avançada que se torna uma ameaça para o Mundo. Cabe aos Vingadores o deterem. Acaba o filme e os heróis da Marvel salvam o dia. Porém, é importante ressaltar que eles nos livraram de uma ameaça que eles mesmos criaram.  A política no Amazonas também segue o mesmo rumo. Amazonino já foi

O Sol e a Paternidade

Um dia, com minha bicicleta, quis chegar até o sol. Ainda hoje meu primo Rafael goza com tal situação. O fato é que, com o conhecimento teórico bastante tardio, percebi que tal tarefa seria impossível.  Apesar disso, continuo lutando para cruzar a minha própria Via Láctea. Olho pra trás e percebo que muitos padeceram antes mesmo do alvorecer. Vejo que, só por estar vivo e seguir uma vida correta, cheguei mais longe que muitos dos meus colegas do ensino fundamental.  Muitas vezes, somos cobrados além daquilo que podemos oferecer. Durante muitos anos eu mesmo me cobrei para ser um dos maiores intelectuais que o mundo já viu, mas acredito que a urgência da especialização me atrapalha. Possivelmente, o máximo que conseguirei alcançar será a de uma referência regional - e isso será o ápice. Um dia falei para o meu pai que não passara em um concurso público municipal. Ele esbravejou! Falou que se eu não passava num concurso de nível tão "fácil" dificilmente eu chegaria em al

Equilíbrio e Musculação

Sempre fui contra esse estereótipo que é por vezes assumido ou imposto aos estudiosos. Sujeito de barba, aparência desleixada, cabelo desgrenhado... isso já me afetou por algum tempo, mas com o tempo mudei. Aos poucos fui percebendo que uma das chaves para uma vida plena e feliz é o equilíbrio.  A educação formal no esplendor cultural da Grécia Antiga, por exemplo, continha a ginástica como disciplina. E isso demonstra que muito cedo aquelas mentes perceberam os benefícios das atividades físicas para o desenvolvimento intelectual. Desde que tive conhecimento de tais fatos vim buscando uma forma de equilibrar o tempo despendido em livros com alguns minutos dedicados à prática de exercício físico. Sempre gostei de futebol, mas é um esporte coletivo. Uma vida acadêmica muitas vezes não propicia muitas oportunidades de socialização.  Foi nesse momento que surgiu a musculação na minha vida e há mais de um ano tenho frequentado um ginásio próximo à minha casa.  A diferença tem sido subst

Deus e Metáforas

Tentar explicar para um crente de forma científica o surgimento do Universo e a vida na Terra é uma tarefa hercúlea. Não entendo como uma fábula de milhares de anos se popularizou de tal forma que influencia até mesmo cientistas vinculados à certas seitas religiosas.  Só eu enxergo que o tal "E Deus disse: Haja Luz!" é uma metáfora para o Big Bang? Ou que o lance de Deus moldar nossa espécie a partir do barro de forma cuidadosa e artesanal é uma alusão ao lento processo evolutivo?  Me assusta a forma como a Palavra de Deus pode ser bastante danosa quando mal interpretada.  O fato é que, ao longo dos tempos, muitas religiões ou ramificações das mesmas vem surgindo baseando sua doutrina e dogmas em trechos confusos que são completamente passíveis de erros interpretativos. Fora o desastre que se torna quando se importam os códigos morais de culturas arcaicas e tenta-se adaptar em sociedades recentes de maneira abrupta, esquecendo de analisar o contexto em que cada letra foi e

Tocando em Feridas

Sempre evito de falar em certos momentos da minha infância, mas talvez seja o momento. Hoje é aniversário do meu único tio e farei questão de comparecer em sua casa, levar um presente e lhe dar um abraço.  O motivo é bem simples: ele sempre me pareceu uma das poucas pessoas que se incomodavam com a situação em que eu era tratado após a minha mãe casar com alguém que não gostava de seus filhos. Eu e meu irmão tivemos problemas nessa época. Nunca esquecerei de quando ele me deu um colchonete para dormir ao notar o estado da minha atual dormida: no chão, apenas com um lençol fino para pôr no piso e outro para se embrulhar,  sem ao menos um ventilador para afastar as carapanãs . Tinha que escolher entre ficar com calor e se proteger das picadas ou enfrentar os insetos e sentir menos a quentura da noite amazônica.  Sempre que posso lhe visito, tomamos uma cerveja, fazemos um som e rio das suas piadas. Não por agradecimento, mas por reconhecer o grande coração que esse homem sempre tev

Sobre a dieta intelectual

Meu ex-professor Raimundo Barradas costumava dizer que um intelectual deveria se dedicar pelo menos 6 horas diárias à leitura, do contrário, em suas palavras, a "fonte secava". Cada vez mais confio nessa ideia. À exemplo disso, falo com conhecimento daquilo que venho passando com a redação da minha dissertação de mestrado. Há vezes que me faltas palavras, tenho que voltar a ler certos textos e revirar anotações feitas em fases anteriores da pesquisa e mesmo reler seções já finalizadas do trabalho.  Por isso, uma coisa é certa: se não nos mantermos nutridos corremos o risco de minguar, definhar intelectualmente. Voltei até mesmo a ler obras literárias. Ontem mesmo li dois contos de Machado de Assis (O Astrólogo e Como Se Inventaram Os Almanaques). Para alguns pode ser uma perca de tempo, mas existem muitos intelectuais que usam os textos literários como fonte inspiradora. O fato é que se não mantermos a dieta em dia, a fonte realmente seca e por isso devemos nos manter

A Vida Como Um Caça-Níquel

Às vezes encaro a vida como um grande caça-níquel. Isso mesmo, um caça-níquel - aquela máquina de jogos em que colocamos moedas e tentamos a sorte, normalmente esperando um bom retorno daquilo que foi "investido". No entanto, a programação da máquina impede que todos se deem bem. Alguns perdem bastante para que venha um outro jogador e "acerte", retendo para si o prêmio. Às vezes um retorno irrisível, noutra vezes, um montante que faz valer a pena a arriscada jogatina.  E assim é também a vida. Muitas vezes investimos bastante em nossas relações interpessoais, usamos de todas as nossas moedas tratando bem outras pessoas que nem ao menos conhecemos, respeitamos a vez na fila, cedemos o lugar para idosos ou gestantes, cumprimentamos o cobrador do ônibus ou o atendente da padaria com um mínimo de cortesia. Mas aí vem alguém e te trata mal, que tenta te prejudicar de uma forma ou de outra, que é estúpido por nenhum motivo aparente. Fazendo com que tudo se pareça uma

Relações Ecológicas e Paternidade

Em uma conversa, lembro da minha cunhada ter comparado certa vez a gestação à uma forma de parasitismo. Isso pode parecer assustador, mas tem seu fundo de verdade. Vejamos: um feto é um organismo que se beneficia de outro organismo, fazendo dele seu hospedeiro e sugando boa parte dos nutrientes ingeridos por ele, sem necessariamente levá-lo a óbito. Isso lembra alguma coisa? Se formos conceituar, se aproxima muito do que se tem como parasitismo nas ciências biológicas. No entanto, existem outras formas de relações ecológicas na natureza onde o parasitismo é apenas uma delas. Interessante o conceito de associação, mutualismo, comensalismo e inquilinismo, por exemplo, que são relações benéficas para ambos os envolvidos.  Desde que recebi a notícia de que serei pai, isso tem me assustado. Terei que alimentar e prover uma outra vida, cumprindo assim a função exigida por aquele papel social.  Minha namorada terá um inquilino que provocará náuseas, vômitos e enjoos, no princípio. Após o

Conhecimento e Utilitarismo

Sócrates, diz Ítalo Calvino em seu livro  Por que ler os Clássicos , aprendia uma ária na flauta mesmo após sentenciado. Quando perguntado sobre o motivo - já que o cálice com cicuta estava por lhe ser servido - ele respondeu: preciso aprender esta ária antes de morrer. O filósofo não precisava de um caráter prático ou utilitário para despender algum tempo em uma atividade. Para ele, era algo simples e profundamente existencial. Me martiriza ver a dimensão que o utilitarismo ganhou na contemporaneidade. Já perdi as contas de quantas vezes fui questionado sobre o porquê de ler tanto, porquê estudo filosofia, por quê estou cursando um mestrado em Sociologia e assim por diante. O fato é que a maioria das pessoas acredita que as leituras precisam ser direcionadas para um fim ou utilidade, onde se precisa de um caráter tecnicista para qualquer atividade e involuntariamente essa crença acaba chegando ao nível do conhecimento. Por coincidência, mais cedo estava lendo Macunaíma ou melhor

O Blasé na Música

Me agonia a forma como certas pessoas atuam como meros consumidores e nem se dão conta. Vejo como, por exemplo, elas trocam pelos smartphones os lançamentos musicais sempre acompanhados do aviso de que se trata de uma novidade, pertencente a um repertório novo, etc. As obras passam assim a ser descartáveis. A canção que se ouvia na semana passada é excluída e o que vale é o hit do momento. Coisas que são comuns numa sociedade onde se aprecia o instantâneo e que tem horror pelo antigo. Lembro de uma vez, de quando ainda eu trabalhava no Teatro Amazonas, uma colega perguntou se eu não ouvia músicas mais recentes. Respondi que era muito raro. Não que eu despreze a produção fonográfica atual, mas acho muito arriscado. Prefiro garimpar os trabalhos dos meus músicos favoritos (todos produzidos décadas antes de eu nascer) do que ouvir uma música que me mandam pelo Whatsapp, confiando no gosto de outrem. Pra mim é mais conveniente usufruir de um trabalho já aclamado do que a possível perd

Youtube e A Caixa de César

t   n   o   r   u   i   s   a o  t    é   a   t   l   m  d d  o   ú   o  u   e  o   e o  h   t   m  b  a   a   c i   u   i   a   e   t   c   é n  m  l   l    e  é   a   s v  a   p  y   m m  i   a e  n   a  o    a  e   x   r   Quando estudei um pouco sobre criptografia me deparei com uma antiga técnica usada pelo imperador romano para enviar mensagem aos seus generais. Trata-se de um quadrado formado por 64 letras distribuídas em 8 linhas e 8 colunas.  Em meio a isso, comecei a refletir que toda invenção ou recurso tecnológico que dispomos pode ser usado tanto para o bem quanto para o mal. Vejamos: a mesma técnica de guerra poderia ser usada para escrever um poema, por exemplo. Tudo depende do agente e não do recurso. Estava lendo há pouco o livro O Otimista Racional, de Matt Ridley - que conheci através do Canal Nerdologia no Youtube e que é apresentado pelo biólogo Átila Iamarino e o professor Filipe Figueiredo. Estou simplesmente encantado com a leitura a q