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Mostrando postagens de março, 2015

Santo Conforto

Acho interessante a forma como os religiosos de seitas protestantes quanto à sua vida econômica. O repúdio contra qualquer manifestação asceta e a tendência em acumular bens materiais são bem perceptíveis. Não que eu tenha algo a favor da renúncia dos prazeres mundanos ou autoflagelação, porém, a busca por uma vida terrena confortável e prazerosa me soa meio estranho vindo de pessoas que buscam a ascensão ao Reino dos Céus. Para esse grupo de religiosos não basta desfrutar no futuro de ruas de ouro cravejadas com diamantes. A vida terrena também necessita ser recheada de vários feitos que visam apenas o campo material. Daí o desinteresse dessas pessoas por coisas como meditação, reflexão filosófica ou contemplação. No primeiro capítulo de A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber observava a inclinação de protestantes quanto as formações em caráter técnico enquanto estas mesmas eram preteridas pelos católicos; estes últimos preferiam as formações em caráter human

Cordialidade Brasileira

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Agora há pouco vi um hóspede brasileiro emprestar seu tablet para uma canadense que muito necessitava estar conectada. A cordialidade é e sempre será um diferencial do povo brasileiro. Possivelmente é o que nos diferencia dos demais. Se falta profissionalismo - o que não é algo pra se orgulhar - sobra afabilidade. Como uma vocação, temos o talento para tratar bem os estrangeiros. É maravilhoso o ensaio de Sérgio Buarque de Holanda sobre a cordialidade intrínseca ao povo brasileiro. O capítulo do livro chama-se O Homem Cordial que, na minha opinião (e também na de Holanda) é sua maior obra depois de Chico Buarque.  Segundo Holanda, a raiz etimológica desta palavra é latina, especificamente oriunda da palavra " cordis ", que significa "coração". É basicamente isso: temos a propensão em ser cordiais com os que vêm de fora. Sem o interesse pecuniário em mente, sem nenhuma intenção arrivista. Bem verdade é que os povos do Novo Mundo sempre tiveram o dom do bem

Bom Descanso!

Bom descanso! É o que diz o meu colega de trabalho Leonardo quando trocamos o turno. Confesso que nunca tinha ouvido tal saudação e, desde a primeira vez que ouvi, reflito sobre as implicações existenciais desta sentença. Mas o ponto que me chama mais atenção é que esta frase não está atrelado ao bem-estar do indivíduo diretamente, ela revela uma preocupação primeira com a manutenção das atividades laborais. Trabalhar sempre foi algo comprovadamente difícil para mim. Nunca vi bem a ideia de dedicar meu tempo à atividades que não me dão prazer. Dedicar-se em prol do enriquecimento alheio soa até mesmo como insano.  Pelo menos insano no sentido da acumulação pela acumulação, como um fim em si mesmo. Weber trata disso quando explica o que significa o espírito do capitalismo. Porém, essa vontade de ganhar mais e mais dinheiro soa sem sentido para quem se importa mais com as questões imateriais da existência. Nos lugares em que a cultura capitalista não penetrou, a transformação do

Ônibus e Instinto

Das raras vezes que vou a terminais de ônibus me ocorre a mesma ideia: as características mais primitivas do gênero humano se esgarçam neste espaço. Já fazia algum tempo que planejava escrever sobre isso até que encontrei com o colega Iná, recentemente, e comentei sobre a questão. Nada como uma mesa de bar para se revelar os pensamentos mais ingratos. Percebo que, numa fila de ônibus, as noções de civilidade idealizada com as cidades modernas - sob os novos paradigmas de urbanismo que surgiu no final do século XIX - juntamente com as ideias de circulação e convivência, fracassaram. As pessoas se acotovelam por um mero lugar no transporte coletivo. Pouco importa o axioma "amai o próximo como a ti mesmo". As pessoas só se interessam em seu relativo conforto.  Já vi coisas absurdas: homens sobrepujando mulheres, jovens subjugando idosos, adultos pisoteando crianças. Não interessa classe social, gênero sexual, faixa etária. Qualquer interesse coletivo é desapropriado em pr

Filhos, Filhos

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"Filhos, Filhos... Melhor não tê-los". Citar o "Poema Enjoadinho" de Vinícius de Moraes publicamente num grupo do WhatsApp causou estranhamento com uma colega de trabalho. O fato é que as pessoas seguem à risca a máxima bíblica de crescer e se multiplicar. Mas, mais do que bíblico, essa é uma máxima biológica que conduz bastante a nossa forma de agir. Sexo, dinheiro, amor, família, carreira, status; praticamente tudo está relacionado com a finalidade latente de reprodução ‑ moldando não apenas nosso sentido de moralidade, mas também criando-se uma ética que é responsável pela nossa conduta. Já tive, em uma oportunidade, a vontade de ter filhos. Inclusive, em dedicatória da minha monografia escrevi: "Aos meus filhos, que habitam apenas o mundo das ideias...". Porém, não consigo mais me imaginar sendo um pai. Essa função exige tamanha dedicação e altruísmo que chega a me assustar.  Vejo pessoas abandonando seus sonhos, passando por dificuldades fi

Agradando Vagabundas

Houve um tempo que eu era extremamente seletivo quanto às minhas parceiras afetivas. Não costumava ficar com qualquer uma. Devia haver o mínimo de sentimentalismo, gostava de saber sobre a família da pessoa, enfim.. O plano era que a relação fosse duradoura.  Entretanto, hoje em dia penso que desperdicei a possibilidade de ter boas noite com certas pessoas que não me permiti conhecer por mero preciosismo.  Óbvio que ainda me acho um rapaz distinto, mas a escolha pelas parceiras sexuais não envolvem mais nível intelectual e bons modos à mesa. Hoje em dia basta me parecer que "valerá a pena". Sem contar que, definitivamente, eu sou um mestre em agradar vagabundas. Me eduquei para ser um cavalheiro, cortejar e tratar bem uma mulher. Porém, percebi que não importa o quanto você se esforce para agradar uma mulher, nunca será o suficiente ao olhar feminino. Principalmente ao olhar das "moças de família".  Essas são inclinadas a escolher homens inteligentes e bem educad

Solo

É interessante como as pessoas muitas vezes parecem necessitar de um parceiro amoroso, tal qual um namorado e afins. Conversava um dia com meu colega Rominik sobre isso. Em suas palavras, seus amigos não conseguem passar 2 meses sem namorado, parece algo compulsório e, possivelmente, patológico. Pelo o que observo entre meus amigos virtuais - que parecem ter encontrado o amor da sua vida semanalmente - isso é verdade. O fato é que, parece ser de uma necessidade da maioria estar envolvida em um relacionamento. Quando alguém torna público a informação de estar envolvido em uma relação amorosa, logo é parabenizado. O contrário ocorre na mesma intensidade, como que se estar solteiro implicasse tristeza e solidão. Entretanto, s alvo raras exceções, a maioria das pessoas que mantém um relacionamento são infelizes ou atormentadas. Relacionamentos amorosos causam clausura. Não se deve tornar a busca pelo Amor uma premissa existencial e insistir esquizofrenicamente nisso. As pessoas prec

Dia Internacional da Mulher

O mundo respira melhor quando tem mulher bonita por perto. É mais ou menos isso que Luiz Felipe Pondé diz em seu Guia Politicamente Incorreto da Filosofia . O mundo seria extremamente sem-graça se não existissem mulheres. O que me incomoda é o fato de ter-se comercializado o Dia Internacional da Mulher e criado toda uma instituição de se presentear. Vejamos:  a data surgiu para celebrar os ganhos sociais na História da emancipação feminina nos últimos séculos. A data, apesar da não confirmação da história, se refere ao episódio em que algumas dezenas de trabalhadoras morreram num incêndio nos Estados Unidos. A maioria das mulheres parece mais interessada nos ganhos materiais oriundos da tragédia envolvendo suas semelhantes. Ao meu entender, a melhor forma de se celebrar tal ocasião seria incinerar algumas dezenas de mulheres - de preferência feministas feias, mal-vestidas e solitárias. Brincadeiras à parte, devemos considerar o fato de que a convenção social de presentear não

A Ciência Mais Importante

Um dia desses comecei a ler   Saber de e Saber Que , de Leônidas Hegenberg. Por algum motivo ele se diz ignorar muita coisa, inclusive as ideias marxistas. Esse foi o motivo o qual eu não consegui terminar a leitura. Foi inquietante virar as páginas de alguém que se diz ignorar nada mais nada menos que Karl Marx. Não que eu seja um marxista ferrenho, mas acho alguns de seus escritos geniais, principalmente   A Ideologia Alemã   ­- que causa orgasmos em qualquer um que goste de escárnio e deboche elegantes. Marx não apenas rompeu com Hegel como também depois dele se passou a dar mais importância aos efeitos materiais no mundo e tudo que nele há.   Mas não é sobre isso que queria falar.  Algumas vezes discuti com meu primo Rafael sobre minha inclinação à Filosofia e Sociologia. Segundo ele, são ciências que não dão nenhuma contribuição à sociedade e por isso mesmo indignas de ser estudadas. Poderia pedir pra ele ler as explicações de Giddens sobre essa questão, mas seria muito