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Mostrando postagens de 2019

As Canções de Noel

Apesar do título sugestivo, esse texto não se trata do Natal - apesar de que falaremos do nascimento de Noel. Ontem foi o 109° aniversário de Noel Rosa e não poderia deixar essa data passar sem homenagear o poeta da Vila. Já falei anteriormente o quão tardio se deu a minha introdução ao mundo da cultura secular por conta da blindagem que uma criação cristã me proporcionou, então, vamos um pouco mais além. Conhecer certos artistas foi uma experiência incrível e, decerto, Noel Rosa está entre os caras que mais gostei de conhecer. Seu estilo rebelde, as rimas pouco convencionais, as ideias que transmite e as sacadas dos seus versos - até mesmo os mais singelos - sempre me impressionaram, mostrando que ele era realmente um sujeito ímpar.  Ontem mesmo comecei a revisitar a obra deste artista e foi maravilhoso ouvir Noel e seus mais diversos intérpretes. Gil, Caetano, Chico, Paulinho da Viola, Maria Rita... todos já regravaram em algum momento de suas carreiras as fabulosas canções de

Sobre o Meu Retorno à Hotelaria

Quando saí do hotel Go Inn em 2015, disse à senhora responsável pelo setor de Recursos Humanos que apesar de eu não ter descoberto o que eu queria pra minha vida, ao menos eu descobrira o que eu NÃO queria. E com esse discurso eu me despedi jurando nunca mais voltar ao ramo hoteleiro. Entretanto, após o término da minha bolsa de Mestrado e a necessidade um emprego para prover as necessidades de uma criança, o retorno à hotelaria foi inevitável. Foi aí que surgiu a oportunidade de trabalhar no Blue Tree. Lembro-me que no primeiro dia de trabalho, quando no trajeto pilotava minha Kansas, cantava baixinho o trecho de uma música do Raul Seixas que diz assim: "mamãe eu não queria, mamãe eu não queria...". E nesse clima se deu a minha volta. Por pura necessidade de momento, afinal, o plano era terminar o mestrado e migrar para a docência. Deste modo, tudo o que eu queria era dar um novo rumo na minha vida profissional. Existem textos no meu blog, da época que eu trabalhava n

O Poder da Introdução

Conheço pessoas que simplesmente "pulam" a leitura de prefácios e introduções dos livros que se propõem a ler. Eu mesmo, nos tempos de faculdade quando não tinha tanto tempo pra ler toda a obra e focava em certos capítulos que seriam mais úteis naquele momento, verificava a numeração no índice e ia diretamente àquelas páginas do maior interesse momentâneo.  No entanto, com o passar do tempo e conforme amadureci enquanto leitor, percebi que algumas obras possuem notas introdutórias que são tão fascinantes quanto o próprio conteúdo do livro. E, na minha opinião, uma delas se destaca: a introdução de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, do alemão - que não me atrevo a chamar sociólogo - Max Weber. Sempre que leio este livro faço questão de reler a introdução, pois, em palavras simplórias, trata-se de um verdadeiro deleite.  É compreensível que em muitos momentos - como no meu caso específico mencionado acima - é complicado ter que ler livros na íntegra. Num mund

A Babá e A Revolução dos Bichos

Com a chegada de um bebê e o fato de eu e minha mulher termos empregos formais, tivemos a necessidade de contar com a ajuda de alguém para cuidar da criança. Foi aí que decidimos contratar uma babá. Por ser um trabalho realizado em 3 ou 4 dias por semana em um turno de 7 horas, acordamos o pagamento de um salário abaixo do que exigiria um vínculo empregatício baseado na CLT. Mas, curiosamente, ainda assim algumas pessoas acharam que estávamos pagando muito por tão pouco trabalho efetivo. Na argumentação dessas pessoas, um bebê não dá tanto trabalho e criam que 200 reais era uma boa remuneração. Sugestão essa que eu rejeitei veementemente.  Visto que essas pessoas são assalariadas e não parecem muito satisfeitas com seus salários e condições de trabalho, foi impossível não pensar e refletir sobre o fantástico A Revolução dos Bichos , de Aldous Huxley. Nesse livro, aparentemente fictício e com nenhuma conexão com a realidade, entre outras coisas o autor promove a exposição de certas a

Zinho

O trabalho na hotelaria exige o cumprimento de certas regras onde uma delas é a proibição do pedido de fotos e autógrafos à hospedes famosos. No entanto, confesso que foi complicado segurar a vontade e tive problemas para me concentrar e cumprir a minha rotina no último final de semana.  Acontece que um jogador que eu muito admiro esteve no hotel onde eu trabalho e por alguns minutos ficamos há poucos metros de distância.  No momento eu conferia filipetas, borderôs, processos de faturamento e outras coisas chatas comuns ao meu ofício. Minha colega Cristiane o atendia diretamente. Ao mirar aquela figura o coração acelerou e a respiração figou ofegante. A vontade era de pular por sobre balcão e dizer: fui e sempre serei um grande fã do seu futebol!!! Mas t ive que "ficar na minha" e ver um dos ídolos da minha infância tão perto, porém mantendo-me tão distante, conservando nítida aquela polidez estéril típica dos trabalhadores do turismo. Esteve conosco um hóspede chamado C

A Verdade Sobre os Pais

Pais não são heróis. Acho que sobre isso já não se têm mais dúvidas. No entanto, eles continuam sendo os maiores culpados quando o assunto é trauma ou sequela. Creio que a maioria dos adultos não cortaram emocionalmente o cordão umbilical. Vivem de desculpas, procuram motivos para seus fracassos, investigam acasos na própria infância a fim de justificar deslizes da fase adulta, em situações em que sua própria motivação não fora suficiente. A verdadeira questão é que não somos preparados para o fracasso. A maioria de nós não são treinados para a derrota. Sentimo-nos eternamente crianças que devem obrigatoriamente sempre serem consoladas. Ninguém errou. Ninguém deve ter se empenhado mais do que se empenhou outrora. Deve existir uma justificativa, um trauma de infância, uma sequela emocional que não cicatrizou.  Nesse momento, os pais são escalados. Cada momento, cada segundo são explorados. Uma palavra ou um gesto pode ser condenado como o determinante. Mas nada é assim tão fácil.

Poema Enojadinho

Meus dedos longos envolvem a sua pequena mão E, quando vejo, ele já adormeceu em meus braços Sempre que olho bem em sua direção Percebo que temos mais que um elo, temos laços. O amor é um sentimento, não há motivo ou Razão Que brota bem antes de um filho vir E pra todas as vezes que eu disse não Hoje eu falo mil vezes sim. E não importa a sua orientação Se é espírita, ateu ou cristão Sempre que ver aquele sorriso banguela Não vai se importar com  parábolas,  contos ou quimeras. Quem disse que a paternidade não é um conto de fadas? Toda vez que sentir o cheiro bom dos seus cabelos Vai concordar com o poeta que em cada rima ironizava “Filhos, filhos... melhor não tê-los.  Mas se não os tê-los, como sabê-lo?”. Havemos de concordar que algumas coisas mudarão Como parte daquele complexo devir do qual somos refém Às vezes, faltará tempo para uma simples refeição Mas, concordemos: que maravilha, que coisa linda que os filhos são!

Um Príncipe Em Minha Vida

Hoje, dia 27, meu filho completa 3 meses e não posso negar que sua chegada tem sido um bálsamo para minha vida. Porém, algo que  achei interessante sobre este período é o baque que a dura tarefa de cuidar de outro ser humano parece afetar muito mais o pais do que as mães. Percebia, durante a gestação, que minha mulher se sentia genuinamente mãe enquanto eu ainda não me sentia pai. Mas creio que agora as coisas estão mais equilibradas e me sinto cada vez mais responsável, altruísta e dedicado. Porém, o que mais tem me incomodado é admitir o quanto esse tempo todo estive errado sobre a paternidade. Talvez não seja tão ruim como eu imaginava. A chegada do bebê tem me motivado bastante, dando um sentido à minha vida que, durante muito tempo, teve uma orientação niilista/pessimista. Até então, autores como Nietzsche e Cioran fizeram parte das minhas leituras. Hoje em dia tenho usado muito mais as sugestões de escritores como Mário Sérgio Cortella e Augusto Cury no cotidiano, buscando cre

Porquê Chamo Meu Filho de Príncipe

Nesses meses em que a paternidade passou a fazer parte da minha vida, algumas coisas têm me chamado a atenção. Coisas como a sensação instintiva de obrigatoriedade de cuidar da criança, as respostas inconscientes ao choro, o imediatismo requerido pelos bebês, etc.  Nesse meio tempo, uma das formas que passei a chamar meu filho foi "Píncipe" - numa clara infantilização da palavra.  O fato é que, como um príncipe, bebês esperam que suas decisões sejam respeitadas e obedecidas. Como um regente monárquico, bebês esperam tributos na forma de excedentes da produção de alimentos. Tal qual um príncipe português de um período específico da nossa história, um bebê exige a quinta parte da produção do ouro para a manutenção da opulência e mordomias da sua boa vida na corte.  Posso jurar que em meio aos seus reclames já ouvi algo do tipo "O Estado sou eu" saindo de sua banguela, repetindo a frase daquele famoso regente absolutista francês. O jornalista Laurentino Gomes, e

Café na Maternidade e Evolucionismo

Voltei para o leito para ficar com minha mulher e filho na maternidade e acabo de passar por uma experiência fascinante. Estava no refeitório tomando café com outros acompanhantes. Até aí tudo bem, mas logo percebi que das 4 mesas dispostas 1 delas estava ocupadas por mulheres. Nas outras 3, 1 homem em cada. Enquanto as mulheres conversavam, os homens permaneciam em completo silêncio. Contato visual? Jamais. O primeiro que chegou (eu) se sentou de costas para a mesa das mulheres. O segundo, de costas para o primeiro na mesa diametralmente oposta. O terceiro, de lado para os dois primeiros, sempre olhando para a parede a sua frente. Aí você me pergunta: o que há de fascinante nisso?  Me refiro ao evolucionismo e o quanto o comportamento das savanas se manifesta em nossa vida cotidiana. Vejamos: numa perspectiva evolucionista, especula-se que enquanto o homem saía para caçar, as fêmeas ficavam com a prole na aldeia socializando entre si, saindo em grupos para coletar frutos e raízes

Homo Arcaicus

Espero que envelhecer não seja tão complicado e que eu não seja o tipo de sujeito velho e, como se não bastasse, antigo. Sim, existe uma diferença entre ser velho e ser antigo. Enquanto a velhice está relacionada ao nosso estado físico, ser antigo está mais para uma categoria espiritual. Ou seja, todo homem antigo é velho, mas nem todo homem velho é antigo. E a esse ser velho e antigo é o que chamo Homo Arcaicus .  Mas, como reconhecer o Homo Arcaicus ? Bem, algumas décadas atrás nossa espécie tem dado saltos tecnológicos absurdos. O sistema capitalista cada vez mais aperfeiçoa os métodos de produção e cria uma atmosfera propícia ao desenvolvimento científico.  Dado o ineditismo desta experiência, vemos os bebês do pós-guerra - hoje às vésperas de adentrar à Terceira Idade - sucumbir às novas tecnologias, tendo dificuldades impressionantes de aprendizado e uma certa recusa às novas formas de fazer.  Notamos um mundo em transformação.  Nosso modo de se relacionar com outras pessoas

Escolhas, Livre-Arbítrio e Paternidade

Tive durante muito tempo a obrigação de ir à igreja. Creio que muito do que poderia ter aprendido antes na minha formação pessoal foi postergado por conta do isolamento e alienação que a religiosidade cristã proporciona aos seus adeptos.  Música, dramaturgia, artes, ciências, cultura... tive comprometido meu aprendizado por se julgar certas coisas como mundanas, impuras ou impróprias e incoerentes com a postura esperada de um homem de fé. Hoje comprei alguns sapatinhos para o meu filho e, dentre eles, um par do Flamengo e outro do Corinthians, que é o time para o qual minha companheira torce. Refletindo, vi o quanto posso influenciar os gostos, anseios e perspectivas do meu Leozinho. Entretanto, tentarei não ser um sujeito inflexível em certos pontos. Garanto que ele terá toda a liberdade de escolher seu posicionamento político e religioso, que poderá escolher para qual time torcer, qual área escolherá para atuar profissionalmente.  Claro que não me espantará que ele seja um vas