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Mostrando postagens de dezembro, 2014

Evangelização e Capital

Fui ao shopping Manauara almoçar. Quando saí fui abordado por uma religiosa que foi, sem a minha permissão, colocando um broche em minha camisa e me entregando um folheto. Fui pego de surpresa, pois estava distraído ouvindo Black Sabbath, por isso acabei pegando o panfleto que trazia estampado a imagem de São Judas Tadeu. Tentando me livrar dessa situação continuei andando. A religiosa, me seguindo, pediu dinheiro. Não que eu tenha algo contra a filantropia, mas não faria sentido eu ser tributário da atividade religiosa já que sou ateu. O que achei interessante, e se tornou o motivo para eu escrever esse texto foi que, diante da minha recusa em dar meu dinheiro a mulher rapidamente retirou o broche e tomou o panfleto do padroeiro do Clube de Regatas Flamengo da minha mão. Que sacrilégio... O santo do FLAMENGO!!! Isso significa que eu só merecia ser evangelizado se tivesse entregue meu dinheiro? De certa forma, eu apenas estaria comprando o broche e o panfleto com uma mensagem

Viver e Dar Frutos

A vida humana é como a de uma árvore. Somos plantados, germinamos, crescemos e morremos. Por mais que muitas vezes, a nossa existência, quando nos damos conta da sua importância já está anunciado o fim. Como o poeta/astrólogo romano Marco Manílio disse, “quando nascemos começamos a morrer”, não a viver. Temos mais que o dever de produzir, dar bons frutos à sociedade. A produção a qual me refiro é a intelectual. Mas é justamente aí que reside o problema: a maioria só está interessada na velha e boa forma hedonista de levar a vida, uma espécie de laissez-paisse existencial. Vivemos uma época em que o lazer é exageradamente divulgado. Lembro-me do tempo em que em Manaus só existia o Amazonas Shopping, mas hoje existem pelo menos sete. Isto significa que a demanda pelo lazer programado e controlado nestes ambientes aumentou significativamente. Uma imagem com com uma legenda no Facebook me chamou atenção: “O Homem foi à Lua e tirou 5 fotografias. Uma garota vai ao shopping e tira 87

O Dente-de-Leão

Vinha num ônibus rumo ao centro da cidade quando uma visão me ocorreu: vi um dente-de-leão bailando ao vento. Meus olhos contemplaram aqueles movimentos, recheados de características físicas onde a gravidade era desafiada. Aquela centelha de vegetal era guiada pelo vento. Para onde o vento soprava aquela deveria ser a direção certa para o dente-de-leão rumar. Um insight me ocorreu: Seria a nossa maioria como dentes-de-leão? Os humanos desde quando nascem são movidos pelos “ventos” da sociedade/cultura ao qual é inserido. Numa espécie de determinismo cultural, o que somos e seremos está condicionada, a uma primeira instância, à cultura que o indivíduo teve o azar de pertencer. Em 1999, eu era uma criança cristã. Nasci numa família Adventista. Muito cedo empurraram os dogmas cristãos sem me perguntar o que eu queria, afinal, os pais sempre pensam que as suas crenças são sempre as melhores para seus filhos quando, muitas vezes, não são saudáveis nem para si próprios . Paradoxalmente

Coisas pequenas e pequenas coisas

É interessante como pequenas coisas podem ter um efeito tão grande em nossas vidas. O próprio motivo pra eu ter escrito este texto foi motivado por uma pequena experiência que me foi proporcionada. Parafraseando uma parte da Teoria do Caos, o simples voo de uma borboleta pode ter efeito incrível no porvir. Assisti em tempo idos a um filme com minha (ex) namorada. Por falta de opções escolhemos o filme Os Smurfs . Normalmente essa não seria a escolha. Primeiramente porque não fez parte da minha infância e, tampouco, eu pagaria por algo que, aparentemente, não me traria nenhum tipo de crescimento intelectual ou existencial. Sem considerações injustas, havemos de convir que, em condições normais, um filme que fala de seres minúsculos e azuis não deveria trazer nenhum tipo de crescimento para alguém. Entretanto, tive uma surpresa: o filme me trouxe um ensinamento que pretendo levar para o resto dos meus dias. Explicando um pouco: sempre quis ter uma casa grande, espaçosa, com piscin

Sabedoria e Senilidade

Lembro-me de uma entrevista de Eduardo Sterblich ao Jô Soares. Além de muitíssimo bom-humor, o artista me surpreendeu com uma inteligência diferenciada. O que me chamou atenção foi um trecho em que este afirmava que gostava de velhos porque esses passam credibilidade em tudo o que falava. Entretanto, não foi bem isso que observei nos últimos tempos. As contradições do nosso tempo são pujantes em vários aspectos da vida cotidiana. Esse é um tempo em que jovens tem de amadurecer rápido demais e velhos tendem a infantilizar-se em busca de uma eterna juventude. Na faculdade, por exemplo, estudei numa turma envelhecida (com 19 anos eu era um dos mais novos). Porém, os hábitos e comportamentos deles em sua maioria eram tão imaturos quanto os meus. Por algum motivo as pessoas adquiriram um certo horror pelo antigo. O que vale mais são as novidades, há uma espécie de culto ao novo, ao jovem. Sou rodeado por velhos infantis e jovens senis. Quando estagiei no Teatro Amazonas, conheci Sama

Bibliotecas Incineradas

Todos os dias penso no meu pai. Em quase 1 ano do seu falecimento, pensar que nunca mais o verei e sentirei seu abraço é uma situação complicada de lidar. Lembro dos tempos que ele me jogava pra cima, meus cabelos se esvoaçavam.  Era uma alegria imensa. Hoje, nada mais restou além de lembranças e muita saudade. Ele fazia o "tipo" intelectual, sendo a pessoa que mais me incentivou a ler e, consequentemente, meu mentor.  Sempre me pego pensando no futuro, como será minha vida, o que conquistarei e, consequentemente, na morte. Às vezes parece inútil viver, ter planos e objetivos, já que tudo se acabará com um último suspiro. Sempre discuto esse assunto com meu primo Rafael. Mesmo que ele não saiba, é um niilista. Mas um niilista vulgar, daqueles que critica o viver, mas adora os prazeres que ela pode oferecer. Um tipo muito comum em nossos tempos. Quando eu falo nos meus sonhos de ser um grande intelectual, ser premiado e produzir uma grande e extensa obra literár

Rádio e Mediocridade

Vinha no ônibus de linha 325 para o meu trabalho, no Centro da cidade. Por falta de opção pus na rádio. Meu cartão de memória me pareceu escasso, mesmo tendo 8Gb de memória e centenas de músicas armazenadas. Acompanhava a programação da Rádio Cidade, onde existe uma programação chamada "à moda da casa" - nesta os ouvintes podem escolher, dentre 3 opções uma tal para que seja ouvida novamente. Hoje, dentre elas tinha uma canção estrangeira e duas brasileiras. Entre as brasileiras tinha como opção a canção "Saigon", interpretada por Emílio Santiago. Eu, como bom necrófilo que sou, já tinha em mente a minha favorita caso fosse participar da votação. Fiquei decepcionado quando percebi que a música estrangeira sagrou-se vencedora. Nada contra as músicas em outros idiomas, simplesmente acho "Saigon" uma obra de arte. É rica, tem conteúdo. Em certa gravação, Renato Russo, que foi professor de inglês até os 23 anos, diz que prefere cantar em português porq

Idolatria Relâmpago

Regularmente visito meu primo Rafael. Depois que meu pai faleceu, é a única pessoa que me faz visitar o distante bairro de Santo Agostinho (extremo oeste de Manaus) - mesmo que não haja dúvidas que ele é um chato! Mas nossos momentos juntos são sempre divertidos e, não por isso, muito profícuos. Em várias das nossas conversas, ele se irrita com as pessoas que, de uma hora pra outra, se dizem fãs de uma personalidade pública, principalmente quando estas morrem -- aliás, é curioso como a morte tem a capacidade de redefinir uma pessoa, principalmente na forma como ela passa a ser vista pelos remanescentes. Lembro-me bem da morte do Chorão, da banda Charlie Brown Jr. Rapidamente as redes sociais se infestaram de comentários,  em sua maioria louvando a obra do artista. Até então, as únicas pessoas que eu conhecia e que eram grandes fãs da banda é Wagner Souza, Drih Oliveira e Danielle Barbosa. Wagner inclusive tem uma tatuagem de um trecho de uma canção desta banda. Achei impressionante